Quem trabalha com pesquisa sabe que o principal desafio é conseguir respostas. A pesquisa pode ter um bom tema, cliente engajado na pesquisa e até o público definido, e, ainda assim, as taxas de resposta ficam aquém do esperado.
E não é questão de acaso ou sorte.

E responder a uma pesquisa, por mais simples que pareça, exige algo que está em falta: disposição cognitiva. O respondente faz um cálculo rápido, às vezes inconsciente, para decidir se vale a pena participar. Ele avalia se o assunto tem relevância, se confia em quem pergunta, se acredita que sua opinião vai gerar algum efeito. Quando essas condições não estão claras, a resposta é uma só: ele não responde.
A literatura sobre comportamento do consumidor e tomada de decisão mostra que a não-resposta é um fenômeno humano e cheio de nuances. Por trás dela estão vieses cognitivos, cansaço diante do excesso de solicitações, desconfiança em relação a quem pergunta e, principalmente, questionários mal desenhados.
Quando uma pessoa ignora um convite para responder, há sempre uma avaliação implícita acontecendo: o cérebro pondera, ainda que de forma automática, o custo do esforço em relação ao benefício percebido. Se o tema não é relevante, se o tempo de resposta é alto, se o formato parece confuso ou se não há confiança no uso dos dados, a tendência natural é o não-engajamento.
Kahneman (2011)¹ chama esse processo de Lei do Menor Esforço, onde o sistema cognitivo prefere tarefas rápidas, previsíveis e recompensadoras. Em pesquisas, isso se traduz em uma regra prática, quanto mais difícil, menor a taxa de resposta.
Mais profundamente, modelos clássicos de motivação ² ³, indicam que as pessoas se engajam em comportamentos quando percebem sentido e valor pessoal na ação. Quando o questionário não deixa claro para que serve, quem o está conduzindo e o que será feito com as respostas, o respondente não vê propósito.
Essa falta de conexão é agravada pela fadiga de pesquisa⁴, onde o excesso de questionários, especialmente quando não geram retorno ou mudança perceptível, criam dessensibilização comportamental, isto é, a pesquisa deixa de ser uma oportunidade de expressão e passa a ser vista como mais uma tarefa sem impacto, ou aquele sentimento do respondente que “fala, mas não é ouvido”.
Na prática do dia a dia, esses fatores aparecem em convites genéricos que não dizem o porquê, mensagens longas que não informam o tempo estimado, escalas e termos que não falam a linguagem do público, promessas vagas de “melhoria contínua” sem devolutiva posterior a análise. Juntos, isso eleva o custo mental e reduz a percepção de valor.
E, talvez seja esse o ponto central da grande parcela de silenciosos, pois as pessoas não estão fugindo das pesquisas, mas sim percebendo que suas respostas não fazem diferença. O desafio, então, não é convencer o público, e sim reconstruir a confiança de que vale a pena participar, e isso começa na estruturação das perguntas, na clareza e propósito da pesquisa, e principalmente, na transformação das respostas em ações reais de melhoria.
¹Kahneman, D. (2011). Thinking, Fast and Slow. Editora Sextante.
Vroom, V. H. (1964). Work and Motivation. Wiley.
²Deci, E. L., & Ryan, R. M. (1985). Intrinsic Motivation and Self-Determination in Human Behavior. Springer.
³Porter, S. R., & Whitcomb, M. E. (2005). Non-response in student surveys: The role of incentives, interest, and trust. Research in Higher Education, 46(2), 229–247
(Porter & Whitcomb, 2005)
Autor: Irian Thais Costa













