A busca pela fidelidade do consumidor é uma prioridade para qualquer empresa que almeje sustentabilidade e crescimento. Frequentemente, essa busca se concentra em garantir a satisfação do cliente, com a crença de que um cliente satisfeito naturalmente se tornará um cliente leal.
Mas será que isso é verdade?
Pesquisas mostram que essa relação não é tão simples. Richard L. Oliver, referência mundial no assunto, defende que a satisfação é apenas uma das etapas do processo de fidelização e não o fim do caminho.
Um dado clássico citado por Fred Reichheld, da Bain & Company, é surpreendente: dos consumidores que se dizem satisfeitos, entre 65% e 85% acabam trocando de marca. No setor automotivo, por exemplo, mesmo com índices de satisfação acima de 85%, apenas 30% a 40% dos clientes voltam a comprar da mesma marca.
Impacto Financeiro Positivo: clientes fiéis têm um impacto direto e significativo no lucro das empresas1. Aumentar a taxa de retenção de clientes em apenas 5% pode resultar em ganhos de lucro entre 25% e 95%, segundo provas da Bain & Company.
Redução de Custos: os custos associados à retenção de clientes são substancialmente menores do que os da aquisição de novos clientes. (Fonte: Fornell e Wernerfelt 1987).
Satisfazer o cliente é como lançar uma base: é necessário, mas não garante que ele ficará com você. A fidelidade exige experiências consistentes e valor percebido ao longo do tempo. Segundo Newman e Werbel (1973), clientes fiéis são aqueles que recompraram uma marca e consideram apenas essa marca, sem buscar informações relacionadas a outras marcas.
Lealdade, em um nível mais profundo, é quando o cliente continua comprando mesmo diante de ofertas da concorrência ou pequenos deslizes da marca. Isso exige mais do que bons preços ou um atendimento pontual: envolve conexões emocionais, identificação e até comunidades de marca.
A fidelidade do consumidor não acontece de forma imediata, ela é construída em camadas, ao longo do tempo. Segundo Richard Oliver, especialista no tema, esse processo pode ser dividido em quatro fases principais:
Alguns consumidores têm um perfil explorador. Eles valorizam a experimentação e a novidade, evitando vínculos fixos com marcas. Mesmo que estejam satisfeitos, tendem a trocar de marca apenas para experimentar algo diferente.
Solução: manter o interesse com inovações constantes e experiências exclusivas.
Nem todo consumidor é leal a uma única marca. Muitos alternam entre opções por hábito, disponibilidade ou conveniência. Essa fidelidade fragmentada dificulta o engajamento profundo.
Solução: criar diferenciais claros e reforçar o vínculo emocional para sair da “zona de substituição”.
Descontos agressivos, brindes, campanhas emocionais e programas de fidelidade mais vantajosos podem atrair até clientes fiéis, principalmente se houver insatisfação não resolvida.
Solução: monitorar constantemente o mercado e reforçar o valor entregue.
A lealdade pode desaparecer quando o consumidor deixa de consumir totalmente uma categoria.
Exemplos: quem para de fumar, adota uma alimentação natural e elimina refrigerantes, ou substitui táxis por apps de mobilidade.
Impulso: mudanças de estilo de vida, saúde, valores ou economia.
A lealdade não é imune à passagem do tempo. À medida que o consumidor muda, suas necessidades também evoluem.
A realidade é que o estado de lealdade totalmente vinculada, onde a marca se torna parte da auto identidade, não é acessível a todos os profissionais de marketing. Para almejar esse nível de fidelidade, são necessários no mínimo cinco critérios essenciais:
Se alguma dessas condições não for atingível, o potencial para a lealdade definitiva se reduz. Para muitas empresas, cujos produtos podem ter características de commodities ou onde o envolvimento do consumidor é baixo, a fidelidade nesse nível máximo pode ser inatingível, e o melhor resultado possível pode ser a satisfação.
O recado é claro: satisfação é essencial, mas não é o objetivo final. Construir lealdade exige uma abordagem mais estratégica, onde é preciso:
A lealdade real nasce da convergência entre produto de qualidade, vínculo pessoal e engajamento social. Ignorar esse tripé é correr o risco de depender de clientes satisfeitos, que podem ir embora a qualquer momento.
Desenvolvido por Fred Reichheld e apresentado pela primeira vez em um artigo da Harvard Business Review em 2003, o NPS rapidamente se tornou uma ferramenta indispensável para empresas em diversos segmentos de mercado. O artigo, intitulado “O número que você precisa crescer”, explica como uma única pergunta pode ajudar as empresas a avaliar o grau de fidelidade de seus clientes.
O Net Promoter Score (NPS) é um indicador que mede a probabilidade dos clientes recomendarem sua marca para amigos ou familiares.
Pergunta do NPS:
Em uma escala de 0 a 10, o quanto você recomendaria a nossa empresa para um amigo ou familiar?
O NPS consegue identificar e dividir os clientes em promotores, neutros e detratores, revelando o verdadeiro engajamento e a lealdade dos clientes.
Classificação dos clientes:
Detratores: grupo que ficou insatisfeito, decepcionado, são aqueles que dão nota 6 ou inferior. Acabam não recomendando sua empresa, ou pior, criticando-a poluindo e influenciando de forma negativa no mercado;
Passivos: possuem um comportamento apático em relação à empresa, são os que dão nota 7 ou 8. Quase não fazem recomendações, e quando fazem, é com alguma observação e não tem o mesmo entusiasmo que os promotores. A meta de toda empresa é se esforçar para transformá-los em promotores;
Promotores: chamados assim porque agem exatamente dessa forma, eles promovem sua empresa. São os clientes que dão notas 9 ou 10. Recomendam sua empresa ou produto para outras pessoas e comportam-se como clientes leais.
Como o NPS pode ajudar a impulsionar a Lealdade:
Exemplo:
O que motivou sua nota?
Esse micro feedback é riquíssimo, pois ajuda a entender os motivos reais por trás da nota dada, oferecendo insumos para ajustes no produto, serviço ou atendimento.
Na Solvis, acreditamos que entender o cliente vai muito além de uma boa nota em uma pesquisa. Trata-se de captar nuances, interpretar sinais e acompanhar mudanças de comportamento com sensibilidade e inteligência.
Nosso compromisso é apoiar empresas na construção de relações mais profundas e sustentáveis com seus públicos. Ao transformar as percepções dos clientes em dados para a ação, ajudamos a revelar o que o cliente pensa e o que o motiva a permanecer.
Porque, no fim das contas, a fidelidade é construída onde há escuta genuína, experiências significativas e propósito compartilhado.
Fonte:
Esse conteúdo foi baseado em um artigo publicado por:
Oliver, R.(1999) Whence Consumer Loyalty? Journal of Marketing, v.63,Fundamental Issues and Directions for Marketing, p.33-44
Autor: Maria Fernanda